FC Sheriff: o sucesso do clube de Tiraspol
- Danilo Perez

- 4 de out. de 2021
- 3 min de leitura
Se você está acompanhando a Champions League 21/22, com certeza ouviu falar sobre o Fotbal Club Sheriff. Um clube que vem se tornando o verdadeiro xodó dos apaixonados por futebol e surpreende cada vez mais na competição, tendo feito um histórico 2x1 no Real Madrid, em pleno Santiago Bernabéu. Porém pouco se sabe da história das vespas (apelido do clube), e aqui, irei falar um pouco sobre esse pequeno gigante clube do leste europeu.

O Sheriff, que é por muitos, considerado um time da Moldávia – inclusive pela própria UEFA, se autodeclara de uma região socialista e separatista da região: Tiraspol, capital da Transnístria. Apesar dessa região não ser reconhecida internacionalmente como um país independente, ela possui seu próprio governo, sua própria moeda (Rublo transnístrio) e até sua própria bandeira (imagem abaixo), a qual faz referência a URSS. A Moldávia foi parte da União Soviética, mas, como as demais repúblicas, proclamou sua independência no fim dos anos 80. Porém, a Transnístria não quis se separar, por isso, ainda possui identificação com a Rússia.

O poder econômico do clube é o que os fazem se destacar na região, já que “Sheriff” é, na verdade, o nome de um conglomerado empresarial da Transnístria. Eles são donos de negócios como postos de gasolina, canal de televisão, agência de publicidade, destilaria de conhaque, fazenda de caviar entre outros. O isolamento transnístrio permitiu que a empresa se desenvolvesse e até comprasse um time de futebol e que ainda, construísse um estádio (Sheriff Estadium), avaliado em cerca de US$ 200 milhões. Além disso, a empresa é fortemente ligada ao governo, dessa forma, o sucesso do clube de futebol, é só um detalhe para eles. Mas, obviamente, estar numa Champions League e se destacar nela, é um grande marco.
Em tese, pode parecer lindo um clube pequeno, em comparação ao restante dos europeus presentes na competição, conseguir chegar em um nível tão alto, mas para conquistar esse espaço, o Sheriff utilizou sua força econômica para subir de patamar. Afinal, jogam em uma liga onde a maioria dos adversários possuem campos precários, para alguns milhares de torcedores. Enquanto o clube possui jogadores vindos da África, da América do Sul e de grande parte da Europa Oriental, os seus rivais se contentam com atletas locais, afinal não possuem condição para contratar jogadores como o clube de Tiraspol. Ou seja, a disparidade financeira é clara e, não à toa, o FC Sheriff foi o primeiro time “moldavo” a chegar numa Champions League.

Ainda há os casos de corrupção que assombram a empresa e o time. Neste ano, o grupo empresarial foi acusado de fraude nas eleições parlamentares da Moldávia, por exemplo. O Sheriff é quem movimenta o dinheiro da região em que estão. O poder político e econômico do local, passa todo pelas lideranças da empresa, sendo eles de Viktor Gushan e Ilya Kazmaly. A nova presidente da Moldávia, Maia Sandu, disse que deseja que seu país se ligue a à União Europeia, mas o Estado separatista ainda afirma sua lealdade à Moscou, já que a Rússia oferece proteção à região, com tropas militares, além do gás natural, ambos de forma gratuita. Dessa forma, uma nova união entre os locais é algo inimaginável no cenário atual.
Vale também destacar a boa relação entre o clube e a Federação de Futebol da Moldávia (F.M.F.). A confederação de futebol adiou os jogos desta temporada para dar ao Sheriff tempo para se preparar para as eliminatórias da Liga dos Campeões e também, alterou suas regras sobre o número de jogadores estrangeiros que uma equipe pode ter, para que assim eles pudessem realizar mais contratações. Podendo entender que a F.M.F. enxerga o FC Sheriff como algo lucrativo para eles, e não como uma ameaça, como enxergam os seus rivais, que não possuem o mesmo poder.
Por fim, tratar o sucesso dos “amarelos-negros” como um sucesso do futebol moldavo, é não entender as raízes do clube. As conquistas são da empresa Sheriff, que teve a possibilidade de crescer e consolidar seu domínio na região da Transnístria, podendo, posteriormente, fundar em 1997, a instituição de futebol. No momento, eles vivem seu momento de glórias, chegando onde sempre objetivaram: a fase de grupos da Champions League. A história está sendo feita, e mesmo vindo de uma região onde o futebol não se destaca num cenário internacional, o clube vem impressionando nesse início de competição. Tudo indica que eles podem conseguir avançar de fase e quem sabe, começar a ganhar relevância num âmbito mundial. Garantindo também, uma maior dominação da região Transnístria, já que o sucesso do clube é uma afirmação do sucesso da empresa que só gera lucro para Tiraspol.



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