Desafios e superação, o futebol feminino no Brasil

Desafio, garra, paixão e superação são marcas da história das mulheres no futebol. No Brasil durante muitos anos elas foram proibidas de jogar, um decreto da Era Vargas vetou em 1941 a prática do esporte pelas mulheres, que só foi regulamentada em 1983. Além da pressão da legislação, elas tiveram e ainda hoje tem de enfrentar diversos obstáculos que dificultam a prática do esporte. Mesmo assim, a prova de que os estádios e o futebol também são espaços femininos é que a despeito de todas as dificuldades, as mulheres nunca deixaram de torcer, acreditar e jogar futebol no Brasil.

Os primeiros clubes profissionais de futebol feminino criados no Brasil foram o Radar do Rio de Janeiro e o Saad de São Paulo em 1983, estas equipes formaram a base para a Seleção que participou do primeiro torneio de futebol feminino organizado pela Fifa, o Women's Invitational Tournament, realizado na China em 1988. A falta de incentivo e investimento era escarada pelo fato das mulheres terem de usar sobras do uniforme dos homens na competição. Três anos depois aconteceu a primeira Copa do Mundo feminina e em 1999 o Brasil conquistou a primeira medalha, um bronze nos Estados Unidos.

Primeira Seleção Brasileira feminina oficial usava uniforme emprestado do masculino em 1988

E se o Brasil é conhecido como o país do futebol e tem na figura de Pelé, o chamado Rei do Futebol, também é brasileira a Rainha do Futebol, Marta. Eleita seis vezes a melhor jogadora do Mundo, a craque brasileira sem dúvida é um dos maiores exemplos de superação e talento no futebol feminino. Foi Marta quem liderou a Seleção brasileira na conquista do ouro no Pan de 2007, disputado no Rio. Além disso foi medalhista de prata com a Seleção nas Olimpíadas da Grécia em 2004 e Pequim 2008. Outro nome importante para o futebol feminino brasileiro é a meio-campista Formiga, a única pessoa a ter disputado como jogadora 7 Copas do Mundo e 7 Olímpiadas.

Eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo, Marta é a Rainha do Futebol

Formiga à esquerda e Marta, duas jogadoras que fizeram história com a Seleção

Já com relação aos clubes, o primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino profissional foi organizado pela CBF apenas em 2013. Desde então, Corinthians, atual campeão com 3 títulos, e Ferroviária com 2 conquistas são as principais equipes, sendo a Ferroviária atual campeã da Libertadores da América feminina, que na edição atual tem o Corinthians como equipe finalista. Em 2019 a CBF passou a obrigar os clubes da Série A do campeonato masculino a manter uma equipe e divisões de base femininas, uma medida que ajudou a estimular o crescimento da categoria.

Corinthians conquistou seu terceiro título do brasileirão feminino em 2021

Para falar sobre futebol feminino, nada melhor que uma mulher. A apaixonada pelo esporte e acadêmica de Jornalismo na UFSM, Milena Gubiani comenta sobre os desafios e perspectivas para o desenvolvimento da categoria no Brasil.

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"Um dos principais problemas enfrentados pelo futebol feminino é a falta de divulgação, mesmo que isso tenha crescido um pouco nos últimos tempos, com transmissões em alguns canais de televisão, a divulgação ainda é muito baixa. A maioria das pessoas não tem informação nenhuma sobre o futebol feminino se não for buscar na internet. Atualmente está rolando a Libertadores feminina, onde as gurias do Corinthians vão disputar a final neste domingo (21). Porém, infelizmente, a divulgação está longe de uma libertadores masculina."

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Milena ainda destaca a necessidade dos clubes de investirem e darem maior atenção ao futebol feminino, ela cita que é preciso abrir mais espaço, inclusive com o uso dos estádios principais para os jogos das mulheres.

"Além disso, seria extremamente importante para o futebol feminino que os clubes se dedicassem e investissem nesses times. Para assim, fazer com que o futebol feminino cresça mais ainda e as mulheres ocupem, seus merecidos espaços, nessa área caracterizada por ser masculina. Eu acredito também que os clubes podiam disponibilizar os estádios para os jogos delas, isso já aconteceu na final do Gauchão em 2018, no estádio Beira Rio, porém nos anos seguintes não se repetiu. Mas eu espero que esse ano isso aconteça novamente e por que não deixar as gurias jogarem nos estádios quando possível?"

Valorização do futebol feminino passa por uso dos estádios como o Beira-Rio em 2018 no Gauchão

Felizmente o futebol feminino vem crescendo no Brasil, mas ainda requer mais atenção e principalmente investimento e incentivo, tanto dos clubes como das federações de futebol estaduais e da CBF. Já foi o tempo de pensamentos e ideias retrógradas e preconceituosas de que o futebol não seria algo para as mulheres, afinal elas já mostraram que tem muita dedicação e talento para conquistar seu espaço, quer seja nos estádios, no futebol e onde mais elas quiserem.